O lago e a estrela

O lago e a estrela

Disse a vaidosa estrela quando viu

De um lago azul a débil transparência:

— Por que te deu a sábia providência

Um corpo tão monótono e sombrio?


Comigo teve Deus maior clemência

E do esplendor eterno me vestia!

Que vales, pois, ó lago humilde e frio,

Perto da minha deslumbrante essência?


Nos céus eu moro! O meu destino zomba

De ignota força que reparte as mágoas!

Tenho a ventura de desconhecê-la.


— Mas quando a noite vagarosa tomba

É no seio fiel das minhas águas

Que vens dormir, ó luminosa estrela!

Luiz Guimarães